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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poema - SÓ DE SACANAGEM

Meu coração está aos pulos.
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Tudo isso que está ai no ar, malas, cuecas que vão entupidas de dinheiro, do
meu dinheiro, do nosso dinheiro.
Dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e de seus pais; esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
Não roubarás / devolva o lápis do seu coleguinha / esse apontador não é seu
meu filho.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora vou sacanear.
Mais honesto ainda vou ficar. Só de sacanagem.
Dirão:
Deixa de ser bobo, desde Cabral que aqui todo mundo rouba.
E eu vou dizer:
Não importa, será esse meu Carnaval.
Vou confiar mais e outra vez, eu, meu irmão, meu filho e meus amigos vamos
pagar limpo a quem a gente deve, e receber limpo do nosso freguês. Com o
tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambal.
Dirão: é inútil todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal.
E eu direi:
Não admito, minha esperança é imortal; e eu repito: ouviram? Imortal.
Sei que não da pra mudar o começo, mas se agente quiser, vai dar pra mudar o final.
Autor: TOM ZÉ